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domingo, 3 de julho de 2011
Perspectivas da integração latino-americana e do caribe na avaliação do cubano Osvaldo Martinez
Por Míriam Gontijo*
Cubano nascido em Matanzas e eleito deputado da Assembléia Nacional do Poder Popular de Cuba, pela província de Holguín, Osvaldo Martínez esteve no Rio de Janeiro, participando do Seminário Internacional Governos de Esquerda e Progressistas na América Latina e no Caribe.
É presidente da Comissão de Assuntos Econômicos da Assembléia Nacional do Poder Popular de Cuba, e há quem diga que Fidel Castro sempre o consultava quando queria aprofundar um tema neste campo. Sua participação foi discreta, e iniciou como um dos debatedores da Sessão “ Capitalismo contemporâneo: a crise, os novos fenômenos e suas expressões na América Latina e no Caribe”, oportunidade na qual mostrou a capacidade de análise, articulando como tema central da sua exposição a crise econômica atual e suas implicações, com destaque para o que conceituou de Terrorismo Financeiro.
Em entrevista concedida, falou da importância histórica para os cubanos da criação da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que agora em julho de 2011, em Caracas, irá completar o seu processo de constituição, com a realização da III CALC, e fez um balanço dos sete anos da experiência cubana, no bojo da plataforma de cooperação internacional ALBA- Aliança Bolivariana para as Américas, que é a prova de que uma integração solidária é possível, ao citar o exemplo do projeto Petrocaribe.
América Latina e o Caribe vivenciam uma experiência em que partidos de esquerda integram atualmente boa parcela de governos nos países que compõem a região. O tema da integração continental volta à tona em um contexto de crise do sistema capitalista.
São muitas as matizes da discussão sobre integração: comunistas, socialistas, revolucionárias, anticolonialistas, nacionalistas, democráticas, progressistas, com diferentes horizontes estratégicos, mas a integração continental vem sendo construída e na avaliação do Martínez, a experiência cubana no que se refere à ALBA pode ser mensurada como positiva, no que diz respeito aos resultados alcançados dentro do modelo que define esta experiência: uma tentativa de integração que não se baseia essencialmente no incremento das relações puramente comerciais, mas traz como novidade princípios que são impensáveis dentro dos parâmetros do capitalismo: a complementaridade, a cooperação, a solidariedade e o respeito pela soberania dos países. Além de Venezuela, Cuba, Bolívia, aderiram ao bloco: Nicarágua, Dominica, Equador, Antigua e Barbuda, São Vicente e Granadinas.
Ele destacou as relações entre Cuba e Venezuela no contexto da ALBA: o intercâmbio de petróleo por atenção médica; a atuação dos médicos cubanos no programa Barrio Adentro, que representa um projeto integral de saúde, interrelacionado com a educação, o esporte, a cultura e a seguridade social.
O conceito de atendimento integral à saúde vem sendo adotado no Uruguai, que segundo apresentação do senador da Frente Ampla e ex-ministro da Agricultura, Ernesto Agazzi, chamou a atenção para o que eles denominam de “Desenvolvimento Integral”, que também se baseia no atendimento à saúde no formato da experiência Barrio Adentro.
Conforme Martinez, 55% da necessidade cubana de petróleo são atendidas pela cooperação no contexto da ALBA, e na sua avaliação, o projeto Petrocaribe é o melhor exemplo da aplicação do princípio da Solidariedade que propõe a integração bolivariana: por ele, a Venezuela entrega petróleo em condições favoráveis de financiamento aos países caribenhos. Nas condições da plataforma, uma parte da fatura se converte em crédito a pagar no prazo de 20 a 25 anos com taxa de juros de 2%. “Um exemplo único, envolvendo um produto tão caro como o petróleo”, comenta.
Indagado sobre o Banco da Alba, o Banco da Aliança Bolivariana para os Povos de Nossa América, não quis entrar em detalhes. Trata-se da entidade financeira criada para dar resposta à necessidade de ter um organismo que permita financiar e apoiar economicamente projetos que impulsionem a sustentabilidade dos países da América Latina e do Caribe, assim como motivar aos diferentes países integrantes da Alba a se envolverem em projetos de desenvolvimento integral.
Mas sobre o projeto de Telecomunicações envolvendo Cuba e Venezuela, diz que avançou satisfatoriamente, com a implantação do cabo submarino entre Venezuela e Cuba que vai proporcionar comunicação em Banda Larga e velocidade suficiente para não depender mais dos canais de comunicação controlados pelos EUA.
Justiça histórica
Mas o que mais o entusiasmo foi falar da criação da Celac- Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, que agora em julho de 2011, em Caracas, terá completado o seu processo de constituição, com a realização da III CALC, também na capital venezuelana.
Fez questão de pontuar o significado histórico da iniciativa, e que pode ser considerado um dos trunfos da revolução cubana no que diz respeito à política internacional. Para Martinez, pela primeira vez na história da América Latina e Caribe se cria e solidifica um organismo de integração, entre 33 países da região, e sem a participação dos EUA e do Canadá.
Na sua avaliação, a Celac é uma evidência da posição soberana dos estados latino-americanos e caribenhos, de independência frente à hegemonia norte-americana, e que a doença de Chaves não irá postergar a evolução do processo, com o adiamento da reunião prevista para o próximo dia 05 de julho.
Bloqueio a Cuba virou um negócio
Para Martinez, o bloqueio norte-americano a Cuba virou um grande negócio para os contra-revolucionários erradicados na Flórida, pois o governo dos EUA tem destinado à subversão contra Cuba de 20 a 30 milhões de dólares por ano a grupos que se opõem à revolução cubana. Desta maneira, tem gente ganhando com esta demonstração de força do Império, que apesar da maioria dos países da Assembléia Geral das Nações Unidas, ter se declarado, desde 1991, anualmente contrária ao bloqueio, ele vem sendo mantido e nenhum presidente norte-americano teve a sensatez de mudar esta política fracassada.
Terrorismo financeiro.
Na sua exposição sobre o “Capitalismo contemporâneo: a crise, os novos fenômenos e suas expressões na América Latina e Caribe”, Osvaldo Martinez alertou a platéia para o perigo da guerra nuclear, pois segundo o parlamentar cubano “ a guerra é ainda um recurso do imperialismo para sair da crise”.
Além da ameaça nuclear, diferentemente da forma usada na segunda grande guerra, e que seriam identificadas como mini-bombas de alto poder destrutivo, porém não por uma hecatombe de proporções planetária, Martinez alertou para o perigo derivado do que ele chamou de Terrorismo Financeiro da parte dos EUA.
Com a economia mais desequilibrada do mundo, os EUA apresentam grandes déficits comerciais desde os anos 70, que na verdade são utilizados para financiar a militarização do Império, e paradoxalmente põem em perigo os seus principais parceiros comerciais: China e Rússia.
Ao se relacionarem comercialmente com os EUA, estes países obtêm superávits que proporcionam um saldo em moeda norte-americana, cujo ingresso em suas economias pode provocar pressões indesejáveis na taxa de câmbio, repercutindo na perda de competitividade de seus produtos no mercado internacional, entre outros. Na lógica perversa do capitalismo, a saída que eles encontram é comprar bônus do tesouro americano, e que acaba por financiar o déficit dos EUA, baseado principalmente por gastos com a sua militarização.
Conforme informou Martinez, China tentou comprar ativos não financeiros como cadeias de vendas de combustíveis, mas se viu obrigada a comprar ativos financeiros, porque os EUA mantêm o seu poderio militar que os possibilitam manter condições. Para a China, os EUA são hoje o principal mercado de suas exportações, e não pode violentar as regras desta relação.
Ainda na avaliação de Martinez, China, Brasil e Índia são as três economias chave para as mudanças estruturais no cenário internacional, capazes de impor uma mudança qualitativa neste sistema. Não é possível continuar como atual padrão monetário internacional que tem hoje o dólar como principal referência.
* jornalista e presidente da Associação Cultural Jose Marti de Minas Gerais
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